Mandado de Segurança: como garantir o reconhecimento do tempo rural antes dos 12 anos

O que é o Mandado de Segurança e por que ele é importante nesse contexto

O Mandado de Segurança é um instrumento jurídico previsto na Constituição Federal e regulamentado pela Lei nº 12.016/09. Ele tem como objetivo proteger direitos líquidos e certos violados por autoridades públicas, como é o caso de indeferimentos realizados pelo INSS que impedem a produção de provas para o reconhecimento do trabalho rural infantil.

Contexto legal e histórico

A Ação Civil Pública nº 5017267-34.2013.4.04.7100 determinou que o INSS deve aceitar o tempo de trabalho rural antes dos 12 anos como tempo de contribuição. Apesar dessa previsão, é importante destacar que ainda existem muitos desafios para sua aplicação prática, especialmente no que diz respeito à produção de provas.

Além disso, vale lembrar que muitas crianças — especialmente nas décadas de 1960 e 1970 — trabalharam em regime de economia familiar no campo. Por esse motivo, a dificuldade em comprovar essa atividade aumenta significativamente, uma vez que os documentos disponíveis são escassos. Como resultado, a prova testemunhal torna-se essencial para garantir o reconhecimento desse período.

Por que o INSS tem indeferido pedidos com base em prova testemunhal

Mesmo com previsão normativa, o INSS tem indeferido a oitiva de testemunhas na Justificação Administrativa. Essa negativa fere o direito à ampla defesa e ao devido processo legal. Nesse cenário, o Mandado de Segurança se apresenta como uma alternativa eficaz para garantir o trâmite correto do processo administrativo.

Jurisprudência e decisões relevantes

Casos recentes demonstram a importância da comprovação da indispensabilidade do trabalho infantil para o sustento familiar. É esse critério que tem permitido a aceitação excepcional do tempo rural antes dos 12 anos.

Decisões como as da 20ª Junta de Recursos do INSS e da 11ª Turma do TRF4 reforçam a necessidade de análise individualizada, respeitando a realidade das famílias que dependiam da contribuição de crianças para sobreviver.

Por que o Mandado de Segurança é mais seguro do que uma ação ordinária

Optar pelo Mandado de Segurança, em vez de uma ação judicial comum, pode evitar a análise direta do mérito e os riscos de interpretações mais rígidas por parte do Judiciário, que pode não reconhecer o labor infantil como tempo de contribuição válido.

Essa estratégia busca garantir que o processo siga seu curso administrativo com base nas garantias constitucionais, sem que o segurado precise enfrentar uma decisão judicial desfavorável logo no início da demanda.

Conclusão

O reconhecimento do trabalho rural infantil exige sensibilidade e respaldo jurídico adequado. O Mandado de Segurança, quando bem fundamentado, é uma ferramenta poderosa para garantir direitos previdenciários e corrigir injustiças no processo administrativo junto ao INSS.

Quer saber mais? Este tema foi aprofundado em um texto disponível para donwload aqui.

Gabriela Fortuna Fontana OAB/RS 120.398

Gabriela Fortuna Fontana OAB/RS 120.398

Pós-graduada em Direito Previdenciário pela ESMAFE-RS, MBA em Gestão Estratégica da Advocacia pela ESA, Especialização em Direitos Humanos, Constitucionalismo Global e ESG – Universidade de Coimbra, Portugal, Pós-graduada em Direito Processual Previdenciário pela ESMAFEPR e co-autora do livro ESG e a Agenda 2030 da ONU reflexões sobre aspectos práticos e jurídicos.